21 de julho de 2013

Conto do Luneverso — O Andarilho e a Valquíria

            A Estrada. Sempre me pareceu o lugar certo para minha vida. Mesmo com a chuva, o sol forte, a solidão... Eu sempre me senti a vontade enquanto estava nelas. Estradas que levavam a muitos lugares e também a lugar nenhum.
            Parei minha motocicleta próxima à autoestrada e observava o céu noturno. Procurei em minha jaqueta por um cigarro. Levei o cigarro aos lábios e acendi-o, tragando-o e, lentamente, soprando a fumaça.
            Enquanto observava as estrelas, alguns caminhões passavam por mim, às vezes, também, alguns carros e, raramente, alguma motocicleta. Aquela não era uma estrada muito popular. O que era uma pena, a visão que se tinha dali era espetacular. Mas para perceber a pessoa precisaria mesmo querer ver, muitos passam olhando sem, verdadeiramente, olhar.
            Terminei meu cigarro e fiz minha prece a Lua. Montei em minha motocicleta e parti dali. Tinha um trabalho a fazer.
            É eu tenho meu “trampo”. Caçador de monstros é o que eu sou. Sou um desses poucos malucos sociopatas que pecam para que outros não precisem pecar. Um desses caras que alivia o peso das costas dos outros tomando-o para si. Um herói é o que dizem, mesmo que eu não me considere um. Eu sou o que sou por que é só o que sei ser. Não que eu não goste, mas costumo me perguntar algumas vezes como deve ser... Ser um civil.
            Caçar é mais complicado do que parece. Temos que encontrar o caso, saber o que estamos caçando, saber como matar e depois... Bom, matar.
            Não foi complicado dessa vez, apenas um vampiro que precisava de umas boas pancadas pra se encaixar no seu bando. Como ele não entendia, acabei precisando mata-lo. Antes ele do que eu.
            Voltei para o quarto de hotel em que estava hospedado. Uma pocilga, diga-se de passagem, mas como já estava pago... Eu precisava usar. E também precisava de um banho. Não é legal ficar fedendo a sangue podre.
            Quando saí do banho, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo baixo e apanhei outro cigarro. Abri o frigobar e apanhei uma cerveja, podia me dar esse luxo dessa vez. Sentei sobre a cama e liguei a televisão. Nada de interessante estava passando, acabei deixando nos desenhos.
            Minha cerveja estava pela metade quando bateram em minha porta. Estranhei, não conhecia ninguém naquela cidade e não havia pedido serviço... E não poderiam ser do hotel, eram três da manhã!
            Apanhei minha faca de prata e fui até a porta.
            Parada sob o portal estava uma jovem com o corpo com curvas certas e mais baixa do que eu, pele pálida. O cabelo escuro ocultava-lhe parte do rosto, indo parar sobre seu busto não muito avantajado. Vestia roupas simples, camiseta preta, jaqueta escura, jeans e um tênis. O que chamava atenção era o pingente em sua pulseira na mão direita. Um martelo de prata.
            — H-uh, achei que nunca mais veria você, pequena Valquíria. — comentei tomando mais um gole de minha cerveja — Entra aí.
            — Andarilho. — cumprimentou-me quando entrou — Como tem passado?
            Fechei a porta e terminei a cerveja antes de respondê-la.
            — Bem para um mortal. Acabei de terminar um trabalho e estou... Er, comemorando a minha maneira — indiquei a garrafa vazia — Pode me passar meus cigarros?
            Ela apanhou o maço sobre a cama e jogou-me. Tirei um e acendi, guardando o maço no bolso da calça. Após o primeiro trago, ela disse:
            — Eu soube. Por isso vim te ver. — ela sentou sobre a cama, jogando a toalha molhada no chão — Nojento...
            — É só uma toalha molhada — respondi deitando-me ao lado dela, oras é minha cama! — O que quer comigo? Da última vez queria me levar embora daqui. Eu consegui me virar bem sem qualquer ajuda divina, mesmo nórdica.
            — Eu soube disso também. Você é mais falado do que imagina, Andarilho.
            — Não me chame assim. Eu tenho um nome, você sabe disso. — ralhei — Jack é meu nome. Andarilho é apenas parte do meu sobrenome.
            — Eu prefiro te chamar de Andarilho, mas se faz tanta questão...
            — Agradeço Valquíria. — levei o cigarro aos lábios e traguei. — Mas ainda não me respondeu. O que você veio fazer aqui?
            — Estava apenas de passagem. Eu queria ver como estava.
            — Queria se certificar que eu ainda não morri e fui apanhado por alguém que não é você?
            — Algo assim.
            — Eu já te disse, minha servidão é a Luna. Não sou nórdico.
            — Eu o escolhi, não me pergunte por que, apenas escolhi. E isso não é algo que se nega. — disse ela — Nem queira ver o que acontece com quem nega algo a Odin.
            — Ele não sabe lidar com um simples “não”? Seu pai parece um cara esquisito.
            — Ele só tem o gênio forte... — justificou ela — No fundo ele é bom.
            — Bem, eu estou vivo, inteiro e pronto para a próxima briga. — respondi levantando-me da cama.
            Peguei minha jaqueta, coloquei a mochila nas costas e apanhei o capacete. Depois daquela conversa, eu precisava sair dali. Precisava de um pouco de ar. E também precisava chegar a minha própria casa, mesmo com meu padrinho lá para me dar alguma bronca.
            Quando eu estava próximo à porta, ela me chamou. Virei para trás e ela estava muito próxima a mim. Ergueu-se um pouco e selou seus lábios sobre os meus. Fiquei confuso, estava paralisado sem saber o que estava acontecendo.
            — É pra dar sorte — disse ela — Cuide-se, Jack...

            Pisquei e ela havia desaparecido. Saí dali, em direção a minha motocicleta, dei a partida e parti rumo à estrada. Aquela havia sido uma noite estranha.

Conto ― Beijo sob o luar

A noite caíra há algum tempo. Jack estava sentado sobre as estrelas, fumava um cigarro e pensava no que havia lhe acontecido no passado. O vento frio lhe trazia recordações. Trazia de volta as lágrimas que o tempo tentou esconder.
Não conseguia exprimir em palavras as coisas que sentia, não conseguia parar de pensar. O passado era quase tão mais real do que seu presente. Sentia-se errado. Um erro que deveria ser apagado. Por mais que ele se esforçasse para mudar, não conseguia. Ele sempre seria aquele que fizeram dele, mesmo ele tentando fazer algo daquilo que haviam lhe feito.
Sua mente estava em conflito. Suas lembranças não queriam deixa-lo.
Tragou profundamente e, lentamente, deixou que a fumaça escapasse de seus pulmões. A pequena nuvem de fumaça densa foi se dispersando aos poucos. Quando se foi por completo, revelou uma garota ali parada à sua frente.
Ruiva, pele clara, roupas pretas e busto avantajado. Uma garota de seu passado que havia voltado para seu presente. Não sabiam ainda o que eram; não sabiam ainda o que queriam... Nem mesmo se queriam alguma coisa.
― Você está bem? ― ela perguntou
Silêncio.
Ela abaixou-se ao lado dele e o abraçou. Jack sentiu a manga de sua camisa molhar. Ela chorava. Murmurava coisas e ele ainda encarava a Lua. Ele terminou o resto de seu cigarro e jogou a bituca do outro lado. Ele afagou o topo da cabeça dela, ela o olhou, os olhos molhados e a maquiagem borrada.
― Desculpa ― ela disse tornando a esconder o rosto no braço dele ― Desculpa por tudo...
Ele ergueu o rosto dela e a fez se levantar. Trouxe-a para seu colo e a abraçou. Em silêncio, ouvia ela repetir o pedido de desculpas. Diversas vezes ele tentou falar algo, mas as palavras não vinham a sair. Ela levou o rosto próximo ao dele e, enfim, ele conseguiu falar:
― Relaxa... ― ele apertou mais o abraço, queria fazê-la sentir-se segura ― Apenas... Relaxa.
― Desculpa, Jack... Eu sou toda errada... ― ela disse ― Eu nunca quis te fazer mal algum, apenas... Eu faço as coisas sem pensar e acabo fazendo; eu deveria pensar mais antes de fazer.
― Mas já fez ― ele respondeu, ela o encarou ― Agora o que podemos fazer... É deixar o passado para trás e viver. Fazer um bom futuro.
Ela o mordeu no ombro. Doeu um pouco, mas ele se sentiu bem com aquilo.
Levantaram-se para poder ver melhor a Lua. Sob o escuro, ela o abraçou outra vez. Ele levou as mãos ao rosto dela e a fez encara-lo e disse:
― Eu já te disse antes, e digo agora... Sua pupila está enorme. ― ele riu ― Mas essa é a primeira vez em que eu, realmente, acho que as coisas estão funcionando conosco. De uma maneira diferente.
― Como?
― Nunca achei que iria viver suficiente para te ouvir pedir desculpas.
Ela mordeu-o no pescoço. Os narizes se roçaram e ele murmurou algo que ela não ouviu. Seu lábios se encontraram sem querer. Se afastaram, mas não desfizeram o abraço. Não era aquilo que queriam que acontecesse.
― Sabe, eu não acho que você seja toda errada. Talvez um pouco, mas isso todos são. ― ele comentou ― Só precisa se encontrar. Assim como eu controlo minha outra parte, você pode controlar você mesma.
― Nunca achei que fosse te ouvir dizer algo bom de mim... Depois de tudo que aconteceu.
― O passado nunca me importou. ― ele respondeu ― Não é aquilo que aconteceu, não são nossas origens, que dizem quem somos, mas somos aquilo que escolhemos ser. Somos nós quem decidimos se vamos realmente ser bons ou ruins. Eu escolhi ser uma paródia. Uma chacota sobre a vida. E... Bem, eu vivo bem assim.
Riram juntos.
― A Lua... Está tão bonita hoje. ― ela comentou
― Ela sempre está bonita, não é apenas hoje. Mesmo com o céu poluído, mesmo com as nuvens, ela sempre está ali, do jeito dela... Sempre linda.
― É...
Os rostos se aproximaram outra vez. Labios se roçaram e eles se beijaram. Apenas por alguns segundos, se separaram e ela disse:
― Não... Da primeira vez não deu certo...
― Sempre pensando no passado... ― ele procurou no bolso da jaqueta por mais um cigarro e o acendeu. ― Isso não vai te fazer bem, mas eu estou aqui... Quando precisar de alguém.
Ele soprou a fumaça para cima e ela saiu. Ela precisava ir embora. E ele precisava pensar. Sua mente acalmara, mas ainda parecia estar explodindo.

― Realmente... Essa foi uma coisa que eu achei que não viveria mesmo para ver isso acontecer ― ele tragou novamente e sentou-se na cadeira.

Conto ― Esperando o ônibus


O dia havia se passado e Jack Lunewalker chegara em casa. Jogou a jaqueta sobre sua cama, apanhou o notebook recém comprado e voltou para a sala. Ligou a televisão e, enquanto o computador iniciava, acendeu um cigarro. Tragou e, lentamente, soprou a fumaça para fora de seus pulmões.
― H-eh. ― riu ele ― Digitar aqui é tão mais macio... Eu realmente precisava de um computador novo.
Ele deixou seus dedos dançarem sobre o teclado enquanto a página em branco ia deixando sua "brancura" para trás. Ele sorria. Aquele conto que escrevia lhe satisfazia. Havia um pouco de sua vida, de seus feitos, sua imaginação e, também, da garota que havia encontrado na volta para casa.
Ela estava parada esperando o ônibus, os fones de ouvido impediam-na de ouvir o mundo a sua volta. Enquanto ele, apenas a observava, perguntando-se se deveria falar com ela. Ela lhe atraia, parecia uma garota interessante.
Seus cabelos jaziam indecisos entre o castanho-avermelhado e o negro. Os olhos claros e a pele pálida. As roupas simples ― um jeans, uma camisa preta de mangas compridas e um all-star, também, preto. Uma mochila pequena de tecido escuro estava em suas costas.
Em meio a seus pensamentos, ele concluiu “se estou em dúvida, é por que quero. E se quero, eu faço”. Levantou-se, jogou a bituca de cigarro fora e tentou seu melhor sorriso. Ela estava entretida com sua música e não o viu. Ele andou até estar próximo a ela e tentou outra vez. Ela o viu.
Ela tirou os fones e sorriu:
― Oi. ― Sua voz era agradável. Macia, suave... Lembrava-lhe algum desenho, por algum motivo.
― Olá... ― ele não sabia o que dizer. ― Vai pegar qual ônibus?
― O próximo. ― respondeu simplesmente ― Estou cansada, preciso ir pra casa.
Ela comentou tão casualmente que ele ficou sem resposta. Por alguns segundos fez-se silêncio, até ela interrompê-lo:
― Aliás, quem é você?
― Un? Jack é o nome. ― respondeu ― Universitária? ― perguntou indicando a mochila.
― Sim! Eu faço...
― Biologia ― interrompeu ele ― O chaveiro na sua mochila diz isso.
― Ah, é. ― ela sorriu embaraçada ― Gostei do seu cabelo. Homens de cabelo comprido são bonitos.
― Devo me sentir bonitão? ― brincou ele
Riram juntos.
― Mas bem, eu acho bonito homens de cabelo comprido e barba por fazer. Como a sua. ― disse ela enquanto ele passava a mão pelo próprio queixo ― Mas não gosto daquelas barbas gigantes, sei lá o motivo. Apenas não gosto.
― Você fala bastante. ― comentou ele
― Quando me sinto a vontade.
― Está a vontade comigo?
― Não deveria? Você, obviamente, queria falar comigo.
― Ponto. Bom ponto. ― disse ele, quando o ônibus chegara.
― Bem, meu ônibus chegou... Eu preciso ir. Foi bom falar contigo, Jack, você é legal.

Ela entrou no ônibus e ele acendeu outro cigarro. Sorriu e saiu dali. Ele agora tinha sobre o que escrever. Ou melhor, sobre quem.

Conto — Tarde chuvosa

            E em meio à chuva fina que caia naquela tarde, um rapaz de longo cabelo escuro caminhava; ele procurou nos bolsos da jaqueta um cigarro. Encontrou-o, acendeu e tragou. Sua caminhada continuava e ele não tinha um destino certo, apenas uma pessoa que gostaria de ver, mas sabia que ela não o veria.
            Soprou aos poucos a fumaça de seus pulmões e parou em frente a uma pequena cafeteria. Observando da vitrine. A antiga cafeteria que ia com ela. E ela estava ali. O café ao lado e com um livro em mãos. O livro que ele dera para ela. E com ela... O namorado. O cara que o substituíra.
            Ele levou o cigarro aos lábios e deu uma longa tragada. Deu meia volta e continuou caminhando. Não era ali que ele tinha que estar. Então, ele não estaria. Pensou em visitar um amigo, mas lembrou-se na metade do caminho que ele estava viajando com a namorada e a sogra.
            O cigarro apagado, jogado na lixeira mais próxima, enfiou as mãos nos bolsos e decidiu ir até uma livraria. Precisava refugiar-se em meio a letras e o cheiro de páginas antigas. Quando chegou a livraria que costumava ir, estava fechada. Mas ele não era o único decepcionado com isso. Havia uma garota parada em frente às portas fechadas, observando os poucos livros expostos para atrair as pessoas.
            Ele sorriu e cumprimentou-a. Era uma amiga que ele não via há algum tempo. Ela vestia um casaco para proteger-se do frio e carregava uma sacola com algumas compras. Enquanto conversavam, ele acendeu outro cigarro e ela sugeriu irem a uma lanchonete.
            A lanchonete estava vazia, apenas os poucos funcionários e outros poucos clientes; outros desajustados e dois ou três casais; pediram dois cafés e ele apanhou um pacote de amendoins.
            Ela afastou o cabelo do rosto e tomou um gole do café. Ele prendeu seu cabelo e depositou uma pequena colher de açúcar em sua xícara. Enquanto mexia, perguntou à amiga:
            — O que fazia andando por aí?
            — Não queria ficar em casa e precisava de um caderno novo. — respondeu ela — E você?
            — Apenas caminhando.
            — Sei — disse ela tomando outro gole de seu café — Foi atrás dela, não é?
            — Mais ou menos... — respondeu ele pegando um pouco dos amendoins e jogando-os em sua boca — Encontrei-a.
            — E?
            — Apenas isso. Não entrei, não falei com ela e nem pretendo...
            — Ela estava com ele, não é?
            Ele ficou em silêncio por alguns instantes, confirmando a pergunta.
            — Sabe, isso te faz mal. Por que ainda insiste em querer vê-la? — perguntou ela — Ela não vai voltar pra você. Já passaram quatro meses desde que vocês terminaram.
            — Sei disso... Mas... Não sei.
            — Você precisa de uma namorada.
            — Agora me diz algo que eu não saiba.
            — E ela precisa ser legal. Saber cozinhar, gostar de ler, uma garota bonita, se dispor a cuidar bem de você. Só aceito o melhor pra você.
            — H-eh. Já disse que te amo?
            — Hoje ainda não. — ela riu.
            Pagaram a conta e saíram. Ele levou a amiga até a estação e despediram-se.

            Ele ainda precisava caminhar. E também, precisava pensar em algumas coisas... Em sua própria vida.

16 de julho de 2013

Conto — Os garotos da janela


            Um quarto apertado. Simples e comum. Uma cama, uma escrivaninha, uma mesa com alguns livros, duas cadeiras e dois jovens ali. Dois amigos, praticamente irmãos. Um deles, sério e calado, com traços comuns, olhos castanhos, cabelos castanhos, roupas simples. Fácil de perder na multidão. O outro, sentado na cama, tinha o cabelo comprido, vestia roupas pretas e uma jaqueta jeans.
            Enquanto o amigo estava sentado na mesa do quarto, fazendo as tarefas do colégio, o de cabelo comprido acendia um cigarro. Tragou e, lentamente, soprou a fumaça para fora de seus pulmões. Ele virou o rosto para a janela do quarto, estava chovendo. Teria ficado observando por mais alguns instantes, não fossem as palavras do amigo:
            — Você deveria parar de fumar, Jack — disse o garoto que tentava concentrar-se em seu dever de casa — Vai acabar morrendo por causa disso.
            — H-eh, sabe que isso não seria um problema, Dan. — respondeu — Não me importaria de morrer.
            — Você pode não se importar, mas eu sim. — repreendeu ele — Qual é, ao menos tente reduzir esse vício.
            — Okay, Dan, você quem manda — respondeu Jack apagando o cigarro.
            Jack levantou-se da cama e foi até a mesa. Puxou a outra cadeira e apanhou um dos livros de Dan. Revirou as páginas por alguns instantes e largou-o. Dan soltou um muxoxo, que foi ignorado por Jack. Dan foi até a cozinha e quando voltou trazia consigo um pacote de biscoitos. Enquanto comiam, a garoa ia tornando-se uma chuva mais forte e a janela cada vez mais embaçada. Jack olhou para fora e Dan largou os deveres para acompanhar o amigo em sua observação.
            Eles viam um mundo grandioso se abrir diante deles em meio à névoa chuvosa, eles sonhavam com o que poderia existir ali. Ficaram ali parados por algum tempo. Os sonhos que passavam em suas mentes iam mesclando-se uns aos outros.
            Inspirados, empurraram os cadernos do colégio de Dan para fora da mesa e apanharam folhas em branco. Transmitiam seus pensamentos para o papel. Para eles aquela janela havia aberto todo um novo universo. Riam juntos com as ideias discutidas, com os personagens criados, com as cenas transmitidas.
            E para quem os observasse do lado de fora, eram apenas garotos na janela...

Conto — Reunião lunática


I
            Aquilo que mais nos faz sorrir é estar com quem gostamos. Estar com as pessoas que nos fazem bem. Compartilhamos com pessoas os nossos sonhos, nossas alegrias, nossas tristezas, nossos medos... E eu acho que é disso que esta história fala. Ela nos conta como amigos sempre continuam amigos. Como as coisas mudam e ainda permanecem as mesmas.
            A data desta história ainda não passou por nós. Pode ser que também nem chegue desta maneira, as coisas podem acontecer e mudar completamente a minha visão de como a vida seguirá seu rumo. Mas por enquanto, é assim que eu a imagino.

II
            “Amanhã será um bom dia”, foi o que pensei na noite anterior, enquanto corrigia as provas de meio de ano dos meus alunos. Não era possível acreditar como alguns alunos podiam se sair bem enquanto outros se saiam tão mal... Por sorte as férias estavam chegando e eu poderia relaxar e guiar minha atenção em escrever.
            Trabalhar como professor tinha suas recompensas, mas não era assim tão glamoroso quanto se pensa... Certo, ninguém acha bom trabalhar como professor, satisfeito?
            Enfim, o que eu dizia era que o dia seguinte seria bom.
            Naquela manhã de sábado as coisas pareciam tranquilas. Levantei-me da cadeira onde dormir (em cima das provas) e fui até o banheiro. Olhei-me no espelho e tive meu pensamento matinal de fazer a barba, mas a preguiça não me permitiu. Assim como a barba, minhas olheiras estavam cada vez maiores. Escovei os dentes e defequei.
            Coloquei a cafeteira para funcionar enquanto tomava banho. Lavei-me enquanto cantava Ramble On, do Led Zeppelin. Após o banho vesti-me com um jeans antigo e largo, minha camiseta do Ramones — por que não? —, o velho all-star e coloquei uma camisa xadrez cinza.
            Tomei meu café e saí do apartamento, trancando-o e verificando a porta duas vezes para me certificar disso. Adoro minha paranoia. Parei ao lado de minha motocicleta; uma CB antiga e completamente arranhada — eu diria vivida! —; e liguei a música do meu celular, colocando os fones. (Mais Led Zeppelin!).
            Coloquei meus óculos escuros de aro redondo, pus o capacete e montei na motocicleta. Olhei em direção a estrada e parti. O dia estava começando!

III
            Gosto de viajar de motocicleta, mas às vezes penso que seria interessante ter um carro. Poderia carregar mais coisas. Mas meu destino tinha as coisas que seriam necessárias, só o que eu trazia na mochila era meus cigarros, o notebook — caso eu quisesse escrever alguma coisa —, uma muda de roupas simples, a carteira com algum dinheiro e um caderno.
            A cada semestre eu compro um caderno novo, um hábito que criei durante a faculdade, e nele faço anotações sobre tudo que passa pela minha mente. Possíveis diálogos, cenas que nunca saíram do caderno, conversas com personagens — coisa de maluco — e ideias para provas. Meu caderno era completamente multiuso.
            Bem, a viagem foi boa. Essa é a parte boa de morar apenas a algumas cidades de distância do destino. Cheguei lá no começo da tarde. Até mais cedo do que achei que chegaria.
            Há alguns anos, uns amigos e eu criamos a tradição de nos reunirmos e... Bem, não sei exatamente o que fazemos, mas a melhor definição é “curtimos as nossas presenças enquanto rimos das merdas que falamos e discutimos no auge de nossa genialidade besterilística”.
            Enfim, o meu destino era a casa do Gustavo. Ou Moony, como chamo desde que eu me lembro. Fazia algum tempo que não nos víamos e ele decidiu sediar a nossa reunião dessa vez.
            Moony, menino maroto. O primeiro do grupo que acabou casando. Seria engraçado dizer que ele se casou com a garota que ele namorou na faculdade? Talvez. Mais legal que isso é saber que eu quem dei a maior força pra isso acontecer.
            “Ou você sai com ela, ou saio eu!” era o tipo de ameaça que eu fazia para que ele tomasse alguma atitude. Obviamente eu não sairia com uma garota que um irmão estivesse apaixonado por. Sou um bom amigo. Acho.
            Encurtando a história. Moony casou com ela e hoje sou padrinho da pequena filhota deles. Arwen. Ele é realmente fã de Tolkien. Eu também sou, mas não chamaria uma filha assim... Gosto mais de nomes simples.
            Minha afilhada já tem dois anos e meio. E também um amor muito grande pela literatura. Não poderia ser diferente, os pais são escritores e formados em Letras. O padrinho — este que vos fala — é professor de filosofia e também escritor. No mínimo ela amaria literatura ou odiaria. Sorte a nossa que ama. E sorte a dela que ela puxou a aparência da mãe... Embora eu ache que ela vá acabar sendo quase tão alta quanto o pai.
            Marido, pai, escritor, amigo e... É. Ele tem uma boa vida. Sinto orgulho desse garoto, quando o conheci ninguém daria coisa alguma por ele. H-eh, apenas uma pitada de humor negro para alegrar a vida. Mas sério, ele não parecia muita coisa quando nos conhecemos, apenas um cara chato que curtia as mesmas leituras que eu.
            Essa é a vida do Moony.

IV
            Deixei minha motocicleta em frente à garagem dele, impedindo qualquer um de entrar ou sair, simplesmente por que sim, e chamei-o a porta, dando batidas em ritmos musicais.
            Ele me atendeu, obviamente já sabendo que eu era eu. Quem mais bateria na porta dele tocando Highway to hell? Bem, cumprimentamo-nos e entrei. Deixei a mochila no corredor e fomos até os fundos da casa, onde estavam já alguns de nossos amigos.
            Frank e Chuva.
            — Olha quem faltava pra completar o grupo dos emissários do caos! — anunciei-me para eles — Nem me esperaram pra começar a beber, não é, seus maníacos?
            Frank ainda era um gordinho fofo. Por muito tempo chamei-o de “goidinho”. Era um apelido bonito e fazia jus a ele. Mas ele deu uma emagrecida, provavelmente pelo seu excesso de saídas com mulheres. Ou uma única mulher, ele mantinha uma espécie de relacionamento com uma mesma garota há anos.
            Ele havia aberto o próprio escritório de arquitetura e estava vivendo bem. Até tinha projetado a casa do Moony. Ele tentou me persuadir a deixa-lo projetar algo para mim, mas meu multimilionário salário de professor não me permitiria tal coisa. Mesmo que ele fizesse o projeto — o que acredito que acabou fazendo, mas nunca disse — ficaria apenas como um projeto dos sonhos que permaneceria assim... Nos sonhos. E eu gosto do meu pequeno apartamento.
            — Mas você quem disse ontem que não precisávamos esperar! — justificou-se o Chuva. — E além do mais, sabe que eu gosto de beber.
            — Coisa nenhuma. Se gostasse de verdade beberia a cerveja como homem... E não ficaria inventando frescuras para a bebida! — repreendi-o. Ele estava mesmo ainda com um copo de cerveja com algumas coisas dentro que não eram cerveja.
            O nome real do Chuva era Ramon, mas preferimos chama-lo de Chuva. Ele era nosso amigo bizarro. Jornalista e maluco. Cheio de ideias mirabolantes e alguma motivação para seguir em frente com algumas delas. Sempre com óculos escuros pra evitar que as pessoas vissem seus olhos. Estrábico.
            E desde que começou a beber, ele passou a inventar bobagens para criar bebidas estranhas. Como quando ele fez uma cerveja com coentro. Sim, coentro. E raspas de casca de laranja.
            E esse é o tipo de amigo que eu costumo ter. Um aluado entre alguns lunáticos. Faz sentido? Se não fizer, faça de conta que faz e siga sua vida. Por que a minha é divertida com eles.

V
            A tarde seguiu com o ar de risadas e bafo de cevada. Eu precisei me equiparar aos amigos, oras, então bebi mais do que eles. Como sempre. E então, com o inicio da noite, o Moony armou a churrasqueira e tentou acender o fogo. Falhando arduamente.
            — Você tem certeza que é homem, Moony? — perguntei-lhe tirando de sua mão os fósforos. Acendi a churrasqueira rapidamente — Certeza de que foi a sua mulher que ficou grávida e não você?
            — Hoho, muito engraçado — caçoou ele.
            — Definitivamente, você é muito inglês... — comentei
            Frank e Chuva se entreolharam, sorrindo e comentaram baixo “vai começar”.
            — GALÊS! EU SOU GALÊS! QUANTOS ANOS MAIS VAI DEMORAR PRA VOCÊ ENTENDER ISSO?! — gritou Moony para mim.
            — Você me parece bastante inglês — comentei, tomando um gole da minha cerveja e fazendo de conta que o analisava mais de perto.
            — VOCÊ É AMERICANO! CLARO QUE EU TE PAREÇO INGLÊS!
            Silêncio.
            Tomei mais um gole da cerveja; olhei para Frank, Chuva e de volta para o Moony. Começamos a rir todos juntos dessa velha piada. Uma referência a um antigo projeto em que trabalhamos juntos. Quando nossas histórias engataram e começamos a pensar em nossos universos com o devido respeito que eles mereciam.
            — Enfim, onde estão suas senhoras? — perguntei para Moony e Frank.
            — Estão vindo. — respondeu Moony — Foram por o papo em dia... Acho.
            — Dez reais de que estão se pegando — comentei baixo com o Chuva que riu
            — Eu caso! — comentou Frank rindo — Com a minha garota é bem possível.
            — Hey! É da minha mulher que estão falando! — indignou-se nosso inglês/galês
            — Bem, então é certeza. Do jeito que o Moony é... — comentei — Eu acho até que vou aumentar a aposta.
            A porta as minhas costas se abriu e uma voz feminina perguntou:
            — Que aposta é essa, Luigi?
            Virei-me lentamente para encarar minha comadre e sorri da maneira mais cara-de-pau possível:
            — Nenhuma, pequena, nenhuma. — respondi colocando a mão atrás da cabeça
            — Sei... Eu te conheço, rapaz.
            A cena teria sido bem mais pesada se não houvesse acontecido um pequeno furacão que passou correndo pelas pernas da Adriana e pulando em mim berrando “tio Luigi!”.
            Apanhei minha afilhada no colo e ergui-a no ar, para o terror dos pais dela que já gritaram para que eu a abaixasse. Esses pais de hoje em dia são uma chatice, não deixam que a criança faça coisa alguma. Se não fosse pelo padrinho malandro, ela provavelmente nunca teria sabido o que é altura até TER altura.
            — Trouxe presente pra mim? — ela perguntou fazendo carinha de anjo
            — Carinha de anjo não funciona comigo e você sabe disso, tampinha. — respondi — Mas não, dessa vez não te trouxe nada. Quase nem me trouxe.
            — Ah é? Por que, cara? — perguntou Frank — A escola está te dando muito trabalho?
            — É... Sabe, eu não sei como alguns desses moleques consegue chegar ao ensino médio. Tenho visto coisas escabrosas na língua portuguesa. Deixaria esses dois — indiquei o casal anfitrião — de cabelos brancos... Digo, mais ainda. — Moony já começava a manifestar os fios prateados no topo da cabeça.
            — Yeay. E você nem pode ralhar muito, sabe como é professor de filosofia.
            — O ensino caiu muito desde a nossa época. Nem posso mais deixa-los pensar direito. É preciso que eles pensem da maneira que querem que pensem... Por isso essa geração está fodida.
            — Luigi! Olha o palavreado perto da Arwen! — ralhou Adriana — Vem filha, vamos lá pra dentro, a tia está esperando — ela falava da namorada do Frank.
            Uma baixinha levou a outra para dentro. Eu ainda não descobri qual delas foi que levou a outra. E nós ficamos lá fora, esperando a carne assar. Obviamente, o Moony também ralhou comigo pela palavra dita, mas concordou com o fato de o ensino estar decaindo em certos pontos.
VI
            A noite chegou e, enfim, a comida estava pronta. Chuva e eu já havíamos descoberto que o Moony tinha um vinho escondido em um dos armários da cozinha e bebíamos escondidos. Ele provavelmente nos mataria se descobrisse.     Frank estava se agarrando com a namorada a um canto. E Moony conversava com a esposa, enquanto ninavam a pequena Arwen.
            Quando ela dormiu, eles nos chamaram para comer. O que foi uma pena, o vinho estava bom e Moony tomou-o de nossas mãos... Bem, me restou aguardar para procurar mais tarde.
            A mesa estava posta e nós nos sentamos. Confesso que senti um leve pesar por ver os dois casais ali, mas ao menos o Chuva também não havia levado ninguém... Se ele tivesse levado, eu estaria mal na história do grupo. Perder pro Chuva é feio.
            E a Adriana fez questão de me alfinetar com esse fato:
            — E então, Luigi, algum dia você vai chegar aqui com alguma namorada? E que estejam juntos há mais do que algumas semanas...
            — Se eu tiver sorte, não. — respondi enquanto me servia de um pouco de farofa. Males de um nortista. — Sabe que eu sou um espírito livre.
            — Nem me fale, eu me arrependo de ter tentado lhe apresentar a alguma amiga minha. — comentou ela
            — Sério, é você quem veste as calças nessa casa, não é? — comentei alfinetando o Moony — Moony, qual é, essa mulher ainda quer ficar me dizendo que tenho que me juntar com alguém...
            — Amor, ele tem razão. — defendeu-me ele — Você sabe que ele é imaturo demais pra um relacionamento sério.
            — É! — concordei e por alguns instantes fiquei em silêncio, até perceber o que ele havia dito — HEY! O que quer dizer com isso?!
            Todos riram. O Frank até se engasgou com a bebida.
            — C’mon. Você sabe que não conseguiria. — comentou Moony.
            Todos concordaram.
            — Vocês têm razão. — concordei sorrindo e voltei a comer — Mas e você, Chuva? Ainda persegue garotas pela internet?
            — Eu nunca persegui ninguém — respondeu
            — E a Mayara? — lembrei-o — Até onde eu me lembro você ficava sofrendo com seus chifres ilusórios e seguia-a em todo tipo de rede social, mesmo não tendo chance de ficarem juntos. Qualquer um sabia.
            — Qual é! Eu tinha dezessete anos!
            — Eu também já tive dezessete anos e nunca persegui ninguém.
            Chuva jogou-me uma azeitona e eu revidei arremessando outra.
            Os quatro amigos estavam juntos; e também haviam duas garotas na mesa. Passamos a relembrar os tempos em que éramos um bando de moleques que tinham sonhos e esperanças. Comparamos nosso presente com o que achávamos que seria.
            — E eu sempre achei que eu acabaria sendo o cara que ia encaretar, casar e ter filhos. Eu era tão contrário a isso que achei que ia acabar acontecendo. Sorte que eu sempre posso contar com o Moony para me tirar desse fardo.
            — Disponha. — ele riu e beijou a esposa.
            — Que meigo. — comentei — Ei, que tal aquele vinho? Já está aberto mesmo...
            Chuva concordou comigo e o Frank incentivou:
            — Vamos, Moon. Você comentou que estava guardando para um momento especial, quer momento mais especial do que quando reunimos a velha turma?
            — Okay... — ele se levantou e foi buscar o vinho. Ato que eu comemorei batendo na palma da mão estendida de Frank em um high-Five.

VII
            Nossa reunião se estendeu até o começo da madrugada, regada pelo restante do vinho que conquistamos da adega do Moony, pela cerveja que comprei para completar o estoque — que já estava baixo quando cheguei — e também por risadas e insultos comuns vindas das conversas que tivemos. Coisa de amigos que não se veem com a frequência que antigamente se viam.
            Frank levou a namorada para casa dela... E provavelmente ficou por lá.
            Chuva foi para a própria casa, disse algo sobre estar bebendo demais e ter que concluir um artigo para o jornal. Alguma coisa de ser editor e como era difícil escrever coisas que não o interessavam. Concordo plenamente com ele.
            Adriana já havia se deitado e Moon estava dentro de casa fazendo alguma coisa.
            Eu estava sentado no quintal, observando o luar e pensando no que a vida havia nos reservado. Pensando se as pessoas que éramos teriam orgulho de quem somos.
            Acendi um cigarro e suspirei. Eu provavelmente havia batido minhas expectativas.
            — Entristecido com algo?
            Moony sentou-se do meu lado e também encarava o luar. Ficamos alguns instantes em silêncio e então respondi:
            — Mais ou menos. — dei uma longa tragada em meu cigarro e continuei — estou sendo apenas um pouco nostálgico. Sabe, curtindo um pouco de auto piedade.
            — Martirizando-se por ser professor? C’mon, até eu fui professor! — comentou ele
            — É, mas já não é mais. Eu ainda sou.
            — E acha isso ruim?
            — Não... — respondi — Estou apenas vendo como a vida foi bem vista. Sabe, Frank namorando, o Chuva conseguiu ser editor do jornal, você constituiu família. Até tem uma filha!
            — E...? — ele perguntou, já sabendo onde eu queria chegar — Sabe, você só precisa deixar as coisas rolarem. Falta um pouco de risco no que faz.
            — Esse conselho é meu. Não o use sem permissão — comentei sorrindo.
            — Mas é verdade cara, você tem se enfiado em um relacionamento furado atrás do outro desde que nos conhecemos. Nunca se deixou arriscar de verdade com uma garota. Com quantas você chegou a sair por mais de dois meses?
            Levei o cigarro à boca enquanto pensava. Ele tinha razão.
            — Nenhuma.
            — E isso por?
            — Acho que tem razão quando diz que eu ainda sou imaturo pra um relacionamento sério com alguém. Por enquanto prefiro continuar a vida.
            — E o que isso significa?
            — Sinceramente, não tenho a menor ideia — respondi jogando a bituca do cigarro por cima do muro — Talvez continuar as coisas, seguir com as aulas, rindo com os amigos, cuidando da afilhada e escrever mais firmemente. Publicar alguma coisa esse ano ainda.
            — Gosto de ouvir isso.
            — Eu também... Eu também...
            — Bem, o sofá está arrumado lá pra você. Boa noite.

VIII
            E então é isso.
            A vida segue dessa maneira, ou não. As coisas podem acontecer desse jeito no futuro. As coisas podem ser completamente diferentes também, mas eu tenho certeza de que meus amigos e eu continuaremos amigos. Até o momento em que o universo disser “chega! Não posso permitir que um grupo assim me derrote!”, aí teremos que lutar contra tudo para preservar essa amizade.
            Por que por eles eu mataria. Os males do mundo não seriam suficientes para me impedir de continuar amigo desses lunáticos.