21 de julho de 2013

Conto ― Beijo sob o luar

A noite caíra há algum tempo. Jack estava sentado sobre as estrelas, fumava um cigarro e pensava no que havia lhe acontecido no passado. O vento frio lhe trazia recordações. Trazia de volta as lágrimas que o tempo tentou esconder.
Não conseguia exprimir em palavras as coisas que sentia, não conseguia parar de pensar. O passado era quase tão mais real do que seu presente. Sentia-se errado. Um erro que deveria ser apagado. Por mais que ele se esforçasse para mudar, não conseguia. Ele sempre seria aquele que fizeram dele, mesmo ele tentando fazer algo daquilo que haviam lhe feito.
Sua mente estava em conflito. Suas lembranças não queriam deixa-lo.
Tragou profundamente e, lentamente, deixou que a fumaça escapasse de seus pulmões. A pequena nuvem de fumaça densa foi se dispersando aos poucos. Quando se foi por completo, revelou uma garota ali parada à sua frente.
Ruiva, pele clara, roupas pretas e busto avantajado. Uma garota de seu passado que havia voltado para seu presente. Não sabiam ainda o que eram; não sabiam ainda o que queriam... Nem mesmo se queriam alguma coisa.
― Você está bem? ― ela perguntou
Silêncio.
Ela abaixou-se ao lado dele e o abraçou. Jack sentiu a manga de sua camisa molhar. Ela chorava. Murmurava coisas e ele ainda encarava a Lua. Ele terminou o resto de seu cigarro e jogou a bituca do outro lado. Ele afagou o topo da cabeça dela, ela o olhou, os olhos molhados e a maquiagem borrada.
― Desculpa ― ela disse tornando a esconder o rosto no braço dele ― Desculpa por tudo...
Ele ergueu o rosto dela e a fez se levantar. Trouxe-a para seu colo e a abraçou. Em silêncio, ouvia ela repetir o pedido de desculpas. Diversas vezes ele tentou falar algo, mas as palavras não vinham a sair. Ela levou o rosto próximo ao dele e, enfim, ele conseguiu falar:
― Relaxa... ― ele apertou mais o abraço, queria fazê-la sentir-se segura ― Apenas... Relaxa.
― Desculpa, Jack... Eu sou toda errada... ― ela disse ― Eu nunca quis te fazer mal algum, apenas... Eu faço as coisas sem pensar e acabo fazendo; eu deveria pensar mais antes de fazer.
― Mas já fez ― ele respondeu, ela o encarou ― Agora o que podemos fazer... É deixar o passado para trás e viver. Fazer um bom futuro.
Ela o mordeu no ombro. Doeu um pouco, mas ele se sentiu bem com aquilo.
Levantaram-se para poder ver melhor a Lua. Sob o escuro, ela o abraçou outra vez. Ele levou as mãos ao rosto dela e a fez encara-lo e disse:
― Eu já te disse antes, e digo agora... Sua pupila está enorme. ― ele riu ― Mas essa é a primeira vez em que eu, realmente, acho que as coisas estão funcionando conosco. De uma maneira diferente.
― Como?
― Nunca achei que iria viver suficiente para te ouvir pedir desculpas.
Ela mordeu-o no pescoço. Os narizes se roçaram e ele murmurou algo que ela não ouviu. Seu lábios se encontraram sem querer. Se afastaram, mas não desfizeram o abraço. Não era aquilo que queriam que acontecesse.
― Sabe, eu não acho que você seja toda errada. Talvez um pouco, mas isso todos são. ― ele comentou ― Só precisa se encontrar. Assim como eu controlo minha outra parte, você pode controlar você mesma.
― Nunca achei que fosse te ouvir dizer algo bom de mim... Depois de tudo que aconteceu.
― O passado nunca me importou. ― ele respondeu ― Não é aquilo que aconteceu, não são nossas origens, que dizem quem somos, mas somos aquilo que escolhemos ser. Somos nós quem decidimos se vamos realmente ser bons ou ruins. Eu escolhi ser uma paródia. Uma chacota sobre a vida. E... Bem, eu vivo bem assim.
Riram juntos.
― A Lua... Está tão bonita hoje. ― ela comentou
― Ela sempre está bonita, não é apenas hoje. Mesmo com o céu poluído, mesmo com as nuvens, ela sempre está ali, do jeito dela... Sempre linda.
― É...
Os rostos se aproximaram outra vez. Labios se roçaram e eles se beijaram. Apenas por alguns segundos, se separaram e ela disse:
― Não... Da primeira vez não deu certo...
― Sempre pensando no passado... ― ele procurou no bolso da jaqueta por mais um cigarro e o acendeu. ― Isso não vai te fazer bem, mas eu estou aqui... Quando precisar de alguém.
Ele soprou a fumaça para cima e ela saiu. Ela precisava ir embora. E ele precisava pensar. Sua mente acalmara, mas ainda parecia estar explodindo.

― Realmente... Essa foi uma coisa que eu achei que não viveria mesmo para ver isso acontecer ― ele tragou novamente e sentou-se na cadeira.

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