A
Estrada. Sempre me pareceu o lugar certo para minha vida. Mesmo com a chuva, o
sol forte, a solidão... Eu sempre me senti a vontade enquanto estava nelas.
Estradas que levavam a muitos lugares e também a lugar nenhum.
Parei
minha motocicleta próxima à autoestrada e observava o céu noturno. Procurei em
minha jaqueta por um cigarro. Levei o cigarro aos lábios e acendi-o, tragando-o
e, lentamente, soprando a fumaça.
Enquanto
observava as estrelas, alguns caminhões passavam por mim, às vezes, também,
alguns carros e, raramente, alguma motocicleta. Aquela não era uma estrada
muito popular. O que era uma pena, a visão que se tinha dali era espetacular.
Mas para perceber a pessoa precisaria mesmo querer ver, muitos passam olhando
sem, verdadeiramente, olhar.
Terminei
meu cigarro e fiz minha prece a Lua. Montei em minha motocicleta e parti dali.
Tinha um trabalho a fazer.
É
eu tenho meu “trampo”. Caçador de
monstros é o que eu sou. Sou um desses poucos malucos sociopatas que pecam para
que outros não precisem pecar. Um desses caras que alivia o peso das costas dos
outros tomando-o para si. Um herói é o que dizem, mesmo que eu não me considere
um. Eu sou o que sou por que é só o que sei ser. Não que eu não goste, mas
costumo me perguntar algumas vezes como deve ser... Ser um civil.
Caçar
é mais complicado do que parece. Temos que encontrar o caso, saber o que
estamos caçando, saber como matar e depois... Bom, matar.
Não
foi complicado dessa vez, apenas um vampiro que precisava de umas boas pancadas
pra se encaixar no seu bando. Como ele não entendia, acabei precisando mata-lo.
Antes ele do que eu.
Voltei
para o quarto de hotel em que estava hospedado. Uma pocilga, diga-se de
passagem, mas como já estava pago... Eu precisava usar. E também precisava de
um banho. Não é legal ficar fedendo a sangue podre.
Quando
saí do banho, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo baixo e apanhei outro
cigarro. Abri o frigobar e apanhei uma cerveja, podia me dar esse luxo dessa
vez. Sentei sobre a cama e liguei a televisão. Nada de interessante estava
passando, acabei deixando nos desenhos.
Minha
cerveja estava pela metade quando bateram em minha porta. Estranhei, não
conhecia ninguém naquela cidade e não havia pedido serviço... E não poderiam
ser do hotel, eram três da manhã!
Apanhei
minha faca de prata e fui até a porta.
Parada
sob o portal estava uma jovem com o corpo com curvas certas e mais baixa do que
eu, pele pálida. O cabelo escuro ocultava-lhe parte do rosto, indo parar sobre
seu busto não muito avantajado. Vestia roupas simples, camiseta preta, jaqueta
escura, jeans e um tênis. O que chamava atenção era o pingente em sua pulseira
na mão direita. Um martelo de prata.
—
H-uh, achei que nunca mais veria você, pequena Valquíria. — comentei tomando
mais um gole de minha cerveja — Entra aí.
—
Andarilho. — cumprimentou-me quando entrou — Como tem passado?
Fechei
a porta e terminei a cerveja antes de respondê-la.
—
Bem para um mortal. Acabei de terminar um trabalho e estou... Er, comemorando a
minha maneira — indiquei a garrafa vazia — Pode me passar meus cigarros?
Ela
apanhou o maço sobre a cama e jogou-me. Tirei um e acendi, guardando o maço no
bolso da calça. Após o primeiro trago, ela disse:
—
Eu soube. Por isso vim te ver. — ela sentou sobre a cama, jogando a toalha
molhada no chão — Nojento...
—
É só uma toalha molhada — respondi deitando-me ao lado dela, oras é minha cama!
— O que quer comigo? Da última vez queria me levar embora daqui. Eu consegui me
virar bem sem qualquer ajuda divina, mesmo nórdica.
—
Eu soube disso também. Você é mais falado do que imagina, Andarilho.
—
Não me chame assim. Eu tenho um nome, você sabe disso. — ralhei — Jack é meu
nome. Andarilho é apenas parte do meu sobrenome.
—
Eu prefiro te chamar de Andarilho, mas se faz tanta questão...
—
Agradeço Valquíria. — levei o cigarro aos lábios e traguei. — Mas ainda não me
respondeu. O que você veio fazer aqui?
—
Estava apenas de passagem. Eu queria ver como estava.
—
Queria se certificar que eu ainda não morri e fui apanhado por alguém que não é
você?
—
Algo assim.
—
Eu já te disse, minha servidão é a Luna. Não sou nórdico.
—
Eu o escolhi, não me pergunte por que, apenas escolhi. E isso não é algo que se
nega. — disse ela — Nem queira ver o que acontece com quem nega algo a Odin.
—
Ele não sabe lidar com um simples “não”? Seu pai parece um cara esquisito.
—
Ele só tem o gênio forte... — justificou ela — No fundo ele é bom.
—
Bem, eu estou vivo, inteiro e pronto para a próxima briga. — respondi
levantando-me da cama.
Peguei
minha jaqueta, coloquei a mochila nas costas e apanhei o capacete. Depois
daquela conversa, eu precisava sair dali. Precisava de um pouco de ar. E também
precisava chegar a minha própria casa, mesmo com meu padrinho lá para me dar
alguma bronca.
Quando
eu estava próximo à porta, ela me chamou. Virei para trás e ela estava muito
próxima a mim. Ergueu-se um pouco e selou seus lábios sobre os meus. Fiquei
confuso, estava paralisado sem saber o que estava acontecendo.
—
É pra dar sorte — disse ela — Cuide-se, Jack...
Pisquei
e ela havia desaparecido. Saí dali, em direção a minha motocicleta, dei a
partida e parti rumo à estrada. Aquela havia sido uma noite estranha.
Adorei a fantasia presente no conto. Você escreveu maravilhosamente bem. Parabéns!
ResponderExcluirBeijo
Mariana | Sem querer me intrometer