21 de julho de 2013

Conto — Tarde chuvosa

            E em meio à chuva fina que caia naquela tarde, um rapaz de longo cabelo escuro caminhava; ele procurou nos bolsos da jaqueta um cigarro. Encontrou-o, acendeu e tragou. Sua caminhada continuava e ele não tinha um destino certo, apenas uma pessoa que gostaria de ver, mas sabia que ela não o veria.
            Soprou aos poucos a fumaça de seus pulmões e parou em frente a uma pequena cafeteria. Observando da vitrine. A antiga cafeteria que ia com ela. E ela estava ali. O café ao lado e com um livro em mãos. O livro que ele dera para ela. E com ela... O namorado. O cara que o substituíra.
            Ele levou o cigarro aos lábios e deu uma longa tragada. Deu meia volta e continuou caminhando. Não era ali que ele tinha que estar. Então, ele não estaria. Pensou em visitar um amigo, mas lembrou-se na metade do caminho que ele estava viajando com a namorada e a sogra.
            O cigarro apagado, jogado na lixeira mais próxima, enfiou as mãos nos bolsos e decidiu ir até uma livraria. Precisava refugiar-se em meio a letras e o cheiro de páginas antigas. Quando chegou a livraria que costumava ir, estava fechada. Mas ele não era o único decepcionado com isso. Havia uma garota parada em frente às portas fechadas, observando os poucos livros expostos para atrair as pessoas.
            Ele sorriu e cumprimentou-a. Era uma amiga que ele não via há algum tempo. Ela vestia um casaco para proteger-se do frio e carregava uma sacola com algumas compras. Enquanto conversavam, ele acendeu outro cigarro e ela sugeriu irem a uma lanchonete.
            A lanchonete estava vazia, apenas os poucos funcionários e outros poucos clientes; outros desajustados e dois ou três casais; pediram dois cafés e ele apanhou um pacote de amendoins.
            Ela afastou o cabelo do rosto e tomou um gole do café. Ele prendeu seu cabelo e depositou uma pequena colher de açúcar em sua xícara. Enquanto mexia, perguntou à amiga:
            — O que fazia andando por aí?
            — Não queria ficar em casa e precisava de um caderno novo. — respondeu ela — E você?
            — Apenas caminhando.
            — Sei — disse ela tomando outro gole de seu café — Foi atrás dela, não é?
            — Mais ou menos... — respondeu ele pegando um pouco dos amendoins e jogando-os em sua boca — Encontrei-a.
            — E?
            — Apenas isso. Não entrei, não falei com ela e nem pretendo...
            — Ela estava com ele, não é?
            Ele ficou em silêncio por alguns instantes, confirmando a pergunta.
            — Sabe, isso te faz mal. Por que ainda insiste em querer vê-la? — perguntou ela — Ela não vai voltar pra você. Já passaram quatro meses desde que vocês terminaram.
            — Sei disso... Mas... Não sei.
            — Você precisa de uma namorada.
            — Agora me diz algo que eu não saiba.
            — E ela precisa ser legal. Saber cozinhar, gostar de ler, uma garota bonita, se dispor a cuidar bem de você. Só aceito o melhor pra você.
            — H-eh. Já disse que te amo?
            — Hoje ainda não. — ela riu.
            Pagaram a conta e saíram. Ele levou a amiga até a estação e despediram-se.

            Ele ainda precisava caminhar. E também, precisava pensar em algumas coisas... Em sua própria vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário