20 de maio de 2014

Conto do Luneverso ― Caça às bruxas

I

Maio de 2013

A noite estava clara, a Lua cheia iluminava a plantação, nós estávamos parados próximos à estrada, sentados em lugares diferentes no mesmo carro. Eu estava sentado no capô, o cigarro aceso, rindo da situação de momentos atrás. Lucas Baker estava dentro do carro, procurando alguma estação de rádio que prestasse. E Hector Acaiah voltava do porta-malas com o caixote de gelo com as cervejas que conseguimos, dando uma para cada.
Em contraste comigo, um tipíco punk dos anos oitenta, Lucas era menor e parecia um skatista de cabelo tão curto que chegava a parecer careca. E ainda mais em contraste, Hector era um cara grande, de cabelo escuro ondulado e mantinha um sorriso o tempo todo ― ele estava sempre calmo.
Após o brinde, tentamos entender o que havia acontecido naquela noite. As coisas estavam mesmo fora do comum, mesmo para nós. E tinhamos um Baker conosco!
― Sabe, para um anjo da guarda, você consegue nos enfiar em cada enrascada, Hector ― Lucas comentou.
― Vindo do curandeiro arriscado isso não significa um problema ― ele retrucou ― Achei que fosse você quem gostasse de riscos.
Touché.
Eu permaneci em silêncio, bebendo de minha cerveja e observando o céu. Meu cigarro queimava lentamente entre meus dedos.
― Jack, o que foi? ― Hector perguntou, agitando a mão em frente ao meu rosto ― Ainda está aí?
― Estou ― respondi ― Só acho que não deveríamos ter saído do bar, Hec.
Antes de termos parado o carro naquele lugar, estávamos no bar Princesa. Bebendo e nos metendo em problemas ― como era de costume ―, até o momento em que Hector se agarrou com uma garota ali e descobrimos, da pior forma, que ela não podia ser tocada por homens. Ela era uma cobaia de alguma experiência de bruxa ou brinquedinho de uma bruxa, eu não tinha certeza ainda.
O que sabemos é que Chapel nos pediu para sair do bar assim que Eve apareceu. A dona da moça com quem Hector estava envolvido no momento.
O Princesa pode ser um bar neutro, mas só é neutro até o momento em que alguém puxa briga com alguém dentro do estabelecimento.
― Acho errado alguém pertencer a outro alguém ― comentei ― Oras, nós somos os mocinhos não somos?!
― Olha, isso que o Lunewalker falou tem sentido, Hector ― Lucas disse ― Se nós não somos mais os caras bons, esqueceram de me avisar disso aí.
― Bem, vendo por esse lado, a razão está com vocês, meus amigos ― Hector ergueu sua cerveja ― É parte de minha demanda salvar aqueles que precisam de ajuda.
― Estamos agora em uma missão celestial? ― Lucas perguntou ― Um anjo da guarda, um caçador lupino e um curandeiro insano? É isso que o mundo envia para salvar algumas donzelas em perigo?
― Ah, cala a boca, Lucas ― retorqui ― É hora de caçar a bruxa malvada!
Brindamos.
― E como Jack deixou a Alma do Deserto em casa, hoje estamos por conta da Verônica aqui ― Hector deu leves tapinhas no teto de seu carro. ― Parece justo pra mim.

II
Carros nunca foram meu meio de locomoção favorito, mesmo que sejam úteis para levar mais gente e também mais armamento. Eles não me dão a sensação de liberdade que uma motocicleta trasmite.
Mas mesmo assim, estávamos, de madrugada, rodando pela cidade em busca de alguma pista da bruxa malvada. Hector estava calado, dirigindo. Lucas brincava com o rádio, ainda procurando alguma música que o agradasse. E eu estava deitado no banco de trás, o braço sobre os olhos.
Em um solavanco, eu me levantei.
― Foi mal ― Hector disse ― Achei que estava dormindo.
― À noite? ― perguntei.
― Bom ponto.
― Galera, diz aí... ― Lucas começou ― Como é que nos vamos encontrar a bruxa, mesmo? Digo, o olfato do Jack não é tão bom assim. Ele precisaria conhecer o cheiro dela e estar no rastro, teria que ser recente.
― Vamos dar um jeito, careca ― respondi.
― E parece que acabamos de encontrar esse jeito ― Hector disse, indicando o carro preto parado em frente à um beco. Não parecia um casal se agarrando, estava mais para uma briga de vampiros, tipíco. ― Estão prontos, senhores?
― Sempre ― Lucas tirou do bolso luvas de ciclismo e as colocou. ― Hora de brincar.
Enquanto Hector era um cara calmo, Lucas sempre foi do tipo que adorava uma boa briga, uma boa confusão, e se atirava no perigo o quanto fosse possível. Ele sempre acabava bem... Bakers e seus costumes.
Saímos da Verônica e fomos até o carro parado. O beco estava agitado, três caras e duas garotas. Uma delas estava no chão, caída e a outra estava encostada contra a parede, enquanto os três se dirigiam para ela, sorrindo.
― Ei sanguessugas ― eu disse, chamando a atenção e tirando minha pistola da cintura, mirando neles.
Um tiro. Dois tiros. Três tiros.
O primeiro tiro acertou um deles direto na cabeça, que caiu com um baque surdo no chão. Os outros dois conseguiram desviar, a garota se encolheu no chão, protegendo a cabeça com as mãos, chorando.
Os dois vieram para cima de nós, Lucas se adiantou a minha frente e ficou parado, esperando o impacto. Hector estava parado, de braços cruzados.
O primeiro atingiu Lucas, que sequer se mexeu quando foi atingido. Arremessado com o impacto, ele sorria. Sangue escorria de sua boca.
― Alguém sabe bater ― ele riu ― Minha vez.
Ele se jogou contra o que o atingiu e acertou-o na mandíbula, quebrando-a. Ele não tinha limitações sobre sua força, estava sempre pronto para chegar ao limite de seu corpo.
O segundo se adiantou para cima de Lucas, mas Hector o agarrou pelo pescoço. Ele abriu a boca dele, arrancando-lhe as presas de vampiro.
O vampiro olhou desesperado. Hector sorriu, mas seus olhos estavam sérios. Uma forte luz descia do braço de Hector, indo até o vampiro, entrando por seu pescoço e espalhando-se por seu corpo.
― Que deus tenha piedade de sua alma, se você ainda tiver uma.
A luz preencheu o beco, eu me encostei contra a parede, próximo a garota, cobri-a com minha jaqueta. Ela precisava de ajuda, aqueles dois poderiam cuidar daquilo.
Quando a luz passou, o corpo do vampiro se desfazia em cinzas. Ele limpou as mãos e olhou para mim.
― Tipíco, eu sabia que você ia acabar perto da garota Jack. ― ele disse ― Como ela está?
― Em choque, mas vai ficar bem ― respondi ― O que você fez com o cadáver?
Exorcismo celeste. Muito útil.
― Percebi. ― sorri ― Vai acabar nos deixando mal assim.
― Nah, não é algo que se possa fazer o tempo todo. Três vezes ao dia é o meu limite. ― ele respondeu ― Cadê o Lucas?
― Quando vi, estava batendo no outro vampiro.
― Espero que ele não o mate, precisamos de informações.
― Eu sei disso ― ouvimos sua voz, vinda de fora do beco ― Só que vamos precisar de um tempo.
Levantei a garota em meus braços e saímos dali. O carro negro parado estava destruído, Lucas e o vampiro provavelmente tinham acabado com ele em sua briga.
Lucas estava com os punhos cobertos de sangue e o ferimento em sua boca sangrava bastante, mas ele continuava sorrindo. Nem mesmo estava cansado.
O vampiro, por outro lado, estava desmaiado próximo ao meio-fio, a mandíbula partida, os braços quebrados ― virados em ângulos impossíveis, se não estivessem ― e uma de suas pernas fora arrancada. Estava jogada do outro lado da rua.
― Me lembra de nunca sair no braço com um Baker empolgado ― Hector disse, sorrindo. ― Na verdade, me lembre apenas de nunca sair no braço com um Baker.
― Feito ― respondi ― Agora, quer abrir o carro? A garota precisa ir pro hospital. Você a leva enquanto damos um jeito nesse sanguessuga?
― Claro. ― Ele respondeu.
Eu a coloquei no banco de trás, deitada, deixei minha jaqueta para cobri-la e Hector entrou no carro, antes de partir ele nos disse:
― Não façam nada divertido sem mim.
Lucas limpou o sangue de seu rosto com as costas da mão e acenou para ele. Voltamos nossa atenção para o vampiro.
― Caralho, cara, o que você fez com ele?
― Bati nele.
― Eu sei disso, animal, eu só quero saber de onde veio tanta raiva pra isso tudo.
― Ah, já fazia um tempo que eu estava sem me exercitar. Acho que eu, realmente, me empolguei.
― Vocês, Bakers, são intrigantes. Nem está cansado, está?
― Sabe que não. Não sabemos o que é estar cansado, ou o que é dormir, não depois da puberdade. ― ele respondeu.
― Certo, o que fazemos agora com esse troço? ― indiquei o sujeito desmaiado. ― Precisamos perguntar coisas à ele. Saber se ele sabe da Eve.
― Ele sabe.
― Perdão?
― Olha a mão dele.
Abaixei-me sem dizer nada, observei as mãos do vampiro por alguns segundos. A direita só estava destruída, mas a esquerda tinha uma marca. Uma runa tatuada. Duas cobras se entrelaçando, formando um E.
Levantei e puxei do bolso um cigarro, acendi.
― A marca dela? ― perguntei.
― É.
― Perfeito.
― Certo, hora de bancar o curandeiro aqui...
― Fique à vontade.
Lucas se abaixou, estendendo as mãos sobre o vampiro inconsciente. As feridas dele se fecharam lentamente, enquanto Lucas parecia ficar mais e mais cansado. Ele podia ser um bom curandeiro, mas era arriscado. Sua habilidade natural era a da cura, mas era um problema para ele. Ela esgotava muito de sua energia vital.
Quando o vampiro despertou, puxei Lucas para longe dele. O vampiro tentou atacar, mas ainda não tinha uma perna e seus braços haviam sido curados do jeito que estavam, sem coloca-los no lugar. Estava impossibilitado de qualquer coisa, exceto falar.
― O que fizeram comigo?! ― ele gritou
― Sem gritaria. ― a pistola estava apontada para sua garganta ― Qualquer coisa que disser, seu bostinha, pode e será usada contra você.
― Jack, essa foi a sua pior referência essa noite. ― Lucas olhou para mim, batendo a mão em sua face ― Sério.
― Eu sempre quis dizer isso num interrogatório. ― Sorri e, me voltando ao vampiro, ― Então, desgraçado, comece a cantar.
― Cantar? O que diabos quer dizer com isso?!
― Eve. ― Lucas repondeu ― Sabemos que está com ela. Que pertence à ela.
― Eu prefiro que me matem!
― Ah, mas nós vamos, mas antes você vai falar ― engatilhei.
Dei um tiro em sua perna restante.
― Isso foi um aviso, agora fale.

III
Já estávamos com Hector outra vez. Ele deixou a garota no hospital, disse às enfermeiras que ela tinham tentado estupra-la e ele a salvou ― coisa de anjo da guarda. Nos encontramos no mesmo beco em que ele nos deixou com aquele vampiro destroçado. Conseguimos as informações necessárias, Lucas acabou com ele quando terminamos. Só precisávamos, agora, ir até o esconderijo da bruxa.
― Sério, eu nunca vou entender essa associação de vampiros com bruxas ― eu disse, enquanto carregava minha pistola, sentado no banco de trás ― Será que só os Bakargy tem bom senso?
― Talvez sim, talvez não ― Hector respondeu ― Estou no caminho certo, não estou?
― Sim.
Lucas apanhou um taco de baseball que Hector guardava em seu carro. Estava entalhado com runas desconhecidas, mas logo assumimos que era o idioma celeste.
― Por que nunca te vi usar isso, Hec? ― ele perguntou ― Parece tão descolado.
― Eu nunca precisei dele.
― E o que ele faz?
― Nada que outros tacos não façam.
― E o que ele faz além disso?
Acaiah.
― Seu sobrenome? ― perguntei
― Não, Acaiah não é meu sobrenome. Eu sequer tenho um. ― ele respondeu ― Acaiah é anjo da guarda. Minha casta, sou um anjo guerreiro que serve ao arcanjo Gabriel, vocês sabem disso.
― É, mas sempre achamos que esse era seu sobrenome ― Lucas disse ― E o que isso tem a ver  com o taco?
― Ele é só um taco, Lucas. Eu só estou pegando no seu pé. ― Hector riu.
― Maldito ― Lucas riu também ― Então, posso pegar emprestado pra hoje?
― Claro.
Não demorou muito mais para que chegassemos. Estávamos em frente a uma casa de dois andares. Próximos ao cemitério da cidade. Tipíco para uma bruxa de almas. Como nunca pensamos nisso antes?
Entramos na casa sem dificuldades. O problema mesmo foi os guardas. Mais alguns vampiros estavam ali, parados, como se nos esperando.
Seguimos em uma luta rápida. Eu guardei a pistola, usando a faca de prata contra eles. Vampiros, tão ou mais sensíveis à prata quanto lobisomens eram. Feitos em cinzas, esmagados pelo bastão, ou com cabeças arrancadas pelo estilo de luta celestial, nós conseguimos limpar a área.
Mas nada da bruxa.
Pus meus sentidos para trabalhar. Não havia nada que ver ali, mas talvez eu pudesse ouvir ou farejar alguma coisa. Dois pontos para o homem-lobo. Sons e cheiros. Eu poderia até escolher.
― Caras, segundo andar. Vão indo na frente, vão lidar com mais alguns cadáveres e encontrar a bruxa. A única mulher ali. ― me virei, tomando o caminho contrário, indo para o porão.
― E você?
― Eu vou salvar uma donzela em apuros.
― É um cachorro mesmo. ― ouvi Lucas dizer, antes de eu descer as escadas.
No porão, encontrei uma garota amarrada. Estava amordaçada, chorava e tinha cicatrizes finas sobre o rosto. Torturada? Como uma tortura deixa marcas tão leves? Eu não tinha tempo para pensar sobre isso na hora, precisava tirar ela dali.
― Vai ficar tudo bem, guria.
Eu a desamarrei. Levei um gancho que me tirou os óculos.
― Vadia... ― murmurei ― Transformação recente, não é? Por isso você ainda tem cheiro de gente.
Ela tirou a mordaça e mostrou suas presas. Uma vampira nova. Ela estava em instinto puro, não tinha qualquer talento ou noção de como lidar com suas novas habilidades. E eu, bem, eu tinha isso à meu favor.
― Filhote de sanguessuga, tão simples de lidar contigo. ― acendi meu isqueiro.
Ela ainda não havia visto luz desde a transformação, ela ficou cega por tempo o suficiente para que eu pudesse cortar sua cabeça com minha faca de prata.
― Uma pena, uma garota tão bonitinha... ― acendi outro cigarro antes de guardar o isqueiro ― Bem, tem gente que não tem sorte na vida.

IV
Eu tive que correr, meu instinto dizia que era preciso correr. Eu sentia que meus amigos estavam com problemas e que precisavam de mim com eles. Eu não podia deixar meus amigos na mão, não era meu modo de viver.
Antes de subir as escadas para o segundo andar, verifiquei minha arma, estava carregada, pronta pra uso. Subi as escadas, atravessando dois degraus por vez, chutei a porta e entrei. Pé na porta e tapa na cara, era esse o pensamento que estava impulsionando minhas ações.
O lugar estava mal-iluminado, umas poucas velas preenchiam o lugar. Hector e Lucas estavam se erguendo de uma recente queda. O cheiro ali era óbvio, cheiro de cinzas e enxofre ― eles haviam destroçado vampiros.
― Ei vadia ― eu disse ― Você não vai mais machucar os meus amigos.
Ao centro do pentagrama, ao lado de uma garota insconsciente, estava uma mulher. Pele morena, cabelos e olhos escuros, vestido negro ao estilo Mortícia Adams, tatuagens cobriam sua pele nos braços e pernas, o rosto era bonito, mas parecia apenas uma impressão. Como se não fosse humana, era apenas uma lembrança da mulher que existia antes de se tornar a bruxa ali presente. Eve.
Ela riu com minha afirmação, a língua de fora, me encarando como uma sucúbo encara um homem a quem deseja. Eve era estranha, todo um jeito de mulher, mas também de monstro.
― Olá, monstro ― sua voz era suave, mas causou-me arrepios ― Chama isso de amigos? Fracos. Que não conseguem nem mesmo se manter de pé.
Ela estendeu a mão, meus amigos voltaram ao chão. Como se a gravidade ao redor deles tivesse se tornado mais pesada, obrigando-os a se curvar perante ela.
― Olha, vadia, eu não sou um monstro. ― retorqui ― Eu sou aquele que veio te mostrar que está errada, mas também sou seu executor. Seu carrasco.
Levantei meu braço, estendendo a arma à sua frente. Estava pronto para atirar, puxei o gatilho. O leve coice confirmou que o disparo foi efetivo, mas a bala nunca chegou à seu destino.
Perto do pentagrama, a bala se desfez em cinzas, enquanto Eve ria. Fechei minha expressão. Se armas de fogo não funcionariam, eu precisaria usar uma tática diferente de combate. Soltei a arma no chão e puxei a faca da cintura.
Com ela em mãos, avancei. Eve me encarava, sorrindo. Hector e Lucas ainda não estavam livres de seu domínio. Eu sabia que não podia com ela sozinho, magia não é fácil de lidar quando se está contando apenas com o físico. Mas quem não arrisca, não petisca.
Meus passos foram observados com atenção pela bruxa, ela sequer se moveu. Eu estava a um passo do pentagrama quando aconteceu. Como se houvesse uma barreira me impedindo de alcança-la, eu não podia entrar. Eve riu.
― Não pode entrar, monstro. ― ela disse ― Não sem minha permissão.
― Eu não estou nem aí pras suas regras, vadia. ― retruquei ― Eu não abaixo a cabeça para nada e nem ninguém.
― O que pretende fazer, então, monstro?
― Eu já disse que eu não sou um monstro! ― gritei.
Girei a faca em minha mão, mirando-a para baixo. Um movimento rápido e preciso. A faca cravou-se dentro do pentagrama que eu não conseguia alcançar. Eu estava certo. Eve rugiu, cuspindo sangue.
Hector e Lucas, enfim, se ergueram. Estavam livres de Eve. E ela, estava com problemas agora. Lucas apanhou o taco outra vez e Hector fez algo que não víamos desde que nos encontramos. Ele estendeu suas asas.
De suas costas, o par de asas se mostrou tão grandes quanto seu carro. E igualmente vermelhas. Asas de sangue. Ele as agitou, apagando as velas que iluminavam o cômodo. Estávamos no escuro. O que me ajudou em meu ataque furtivo.
Visão noturna. Uma benção e maldição ― por isso os óculos escuros o tempo todo.
Um soco. Um chute. O som de madeira acertando alguma coisa. Outro chute. Madeira. Soco. Apanhei a faca rapidamente e cravei-a no ventre de Eve, abrindo-a de baixo para cima.
Acendi meu isqueiro com o silêncio.
― É, essa é uma maneira diferente de cravar firme em alguém ― Lucas comentou, vendo o corpo dividido de Eve ― Mas, acho que foi melhor para o caso, Lunewalker.
― Ah, cala a boca, Baker ― respondi, limpando a faca na barra da camisa ― E a garota, Hec?
Hector se abaixou, tomando-a no colo.
― Morta.
― Pena... ― comentei ― O que fazemos com ela?
― Não sei, parece que está morta à alguns meses... Vou tentar achar alguém que esteja procurando por ela, mas é só o que podemos fazer. ― ele respondeu.
― Certo.
Apanhei minha pistola de volta, guardando-a na cintura, junto da faca.
Hector fechou suas asas sobre a garota, que desapareceu quando ele as reabriu. Lucas apoiou o taco sobre o ombro, sorrindo.
― O que fez com o corpo?
― Está em minha casa. Em meu refúgio.
― Entendo ― ele alargou o sorriso ― Mas e agora, o que fazemos?
Silêncio.
― Bar? ― sugeri.

V
De volta ao mesmo bar onde tudo começou. A tradição do Lunewalker. Após uma demanda bem sucedida, era preciso comemora-la. Era preciso um pouco de diversão após o trabalho.
Hector ergueu o copo, em um brinde, que nós acompanhamos. Sorrimos e bebemos. A bruxa malvada estava morta, uma garota morta, provavelmente, estaria sendo devidamente enterrada pela família preocupada.
E nós?
Nós estávamos à vontade outra vez em nosso devido lugar. O bar Princesa. Eu observava o lugar a nossa volta, Hector e Lucas discutiam os detalhes de nossa aventura.
Eu estava a procura de alguma coisa, mas as vozes em minha mente não me diziam o que era. Talvez não existisse algo pelo qual eu buscasse, talvez eu procurasse apenas por procurar, sem saber o motivo. E como eu não sei o que procuro, nunca vou saber quando encontrar. Ou talvez eu descubra o que procuro quando encontrar.

Só poderia saber quando acontecesse, mas naquele momento, eu estava bebendo com meus amigos. E era isso que importava naquele momento. Isso e a próxima cerveja!

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