— Então vamos — ela disse.
— O que? — indaguei — Onde?
— Caminhar. — levantou-se ela, deixando-me estupefato com a repentina decisão — Você disse certa vez que queria caminhar comigo a noite, por que não agora?
Estávamos sentados no parque, na pista de skate, rodeados pelas árvores, pelo som da banda que tocava ali e pelo cheiro de álcool e nicotina. As estrelas acima de nós enfeitavam a escuridão daquela noite sem luar.
Ainda absorto em meus pensamentos, vi-a dançar por entre a pista, com um sorriso pueril nos lábios. Não era realmente uma dança, eram apenas alguns passos improvisados, mas para mim tinha ainda seu charme.
Enquanto sorria, ela evitou me encarar até finalizar a pirueta que se encerrou com seu segundo chamado para que eu a acompanhasse. Apenas sorri. Sorri e bati leves palmas para sua dança.
— Ei! Você precisa ter cuidado — lembrei-a — Você ainda não está bem suficiente para fazer esse tipo de coisa.
— Vem comigo — ela chamou uma terceira vez.
Vencido, levantei-me, apoiando o peso do corpo sobre meu apoio e tentei alcança-la.
Quando me aproximei dela, ela deu alguns passos para trás. Como se me provocasse. Tomei-a em meus braços e a abracei, dizendo:
— Meu céu noturno invertido.
Ela envolveu-me com os braços e ficamos ali. Parados. Escutando o silencio noturno travar uma batalha com o alvoroço feito pelas pessoas do outro lado do parque.
— Vamos? — ela convidou
Sorri para ela e estendi meu braço para que ela me acompanhasse. Finalmente caminhávamos juntos durante a noite.