Tudo
começou em um daqueles dias em que a conversa com um amigo rende mais do que
pareceria render, além de obvias risadas sobre as desculpas esfarrapadas que
ele dava.
– Sabe... Eu ainda tenho duas fichas de fliperama. – ele disse.
– Hun?
Sério?
– É. – ele
respondeu, tirando-as do bolso. – Tenho que ir jogar qualquer dia desses.
– Pra
perder outra vez? – zombei.
– Ah, qual
é! Se eu tivesse um joystick não teria perdido!
– Desculpa
fuleira essa, não acha?
– Falta de
pratica cara! Se eu estivesse jogando em casa, com o meu console, eu teria
ganhado fácil!
– Mas não
estava.
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Nerds jogando. |
– É... –
ele baixou os olhos, mas logo tornou a erguê-los, com certo entusiasmo no olhar.
– Mas eu ainda vou ganhar naquele jogo!
– Sei,
sei... Você não desafiou um garoto naquele dia? O que houve?
– Ah, ele
não quis aceitar o desafio. Senti no olhar dele que ele queria zerar sozinho...
Mas também senti que no fundo ele não queria era arriscar perder uma ficha.
Frangote.
– Essa nova
geração de nerds afobados. Nunca irão entender como era a época das casas de
fliperamas... Ou bares que tinham fliperamas.
– É, uma
geração criada a leite com pera! Que nunca saberão como é ser “a lenda do
bairro” e ser considerado o melhor entre todos. Não sabem que o espirito de um
fliperama é o risco de perder.
– Um bando
de crianças que estão tão amedrontadas de sair de casa que quando saem fica a
procura da proteção materna para as derrotas que terão. Como se esperassem que
ela trouxesse um sanduiche de queijo quente e um copo de limonada.
– Pais que
apostam fichas em gente sem futuro. – ele concluiu. – Isso é engraçado. Com
algum nível de conceito oculto sobre tudo que dissemos, e também um pouco de
seriedade através das piadas.
– É... As
pessoas deveriam refletir mais sobre essas coisas.
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Respectivamente, eu e meu amigo Luan Luigi. (Sim, ele é meu xará). |