O dia havia se passado e Jack Lunewalker chegara em casa. Jogou a
jaqueta sobre sua cama, apanhou o notebook recém comprado e voltou para a sala.
Ligou a televisão e, enquanto o computador iniciava, acendeu um cigarro. Tragou
e, lentamente, soprou a fumaça para fora de seus pulmões.
― H-eh. ― riu ele ― Digitar aqui é tão mais macio... Eu realmente
precisava de um computador novo.
Ele deixou seus dedos dançarem sobre o teclado enquanto a página em
branco ia deixando sua "brancura" para trás. Ele sorria. Aquele conto
que escrevia lhe satisfazia. Havia um pouco de sua vida, de seus feitos, sua
imaginação e, também, da garota que havia encontrado na volta para casa.
Ela estava parada esperando o ônibus, os fones de ouvido impediam-na de
ouvir o mundo a sua volta. Enquanto ele, apenas a observava, perguntando-se se
deveria falar com ela. Ela lhe atraia, parecia uma garota interessante.
Seus cabelos jaziam indecisos entre o castanho-avermelhado e o negro. Os
olhos claros e a pele pálida. As roupas simples ― um jeans, uma camisa preta de
mangas compridas e um all-star, também, preto. Uma mochila pequena de tecido
escuro estava em suas costas.
Em meio a seus pensamentos, ele concluiu “se estou em dúvida, é por que quero. E se quero, eu faço”.
Levantou-se, jogou a bituca de cigarro fora e tentou seu melhor sorriso. Ela
estava entretida com sua música e não o viu. Ele andou até estar próximo a ela
e tentou outra vez. Ela o viu.
Ela tirou os fones e sorriu:
― Oi. ― Sua voz era agradável. Macia, suave... Lembrava-lhe algum
desenho, por algum motivo.
― Olá... ― ele não sabia o que dizer. ― Vai pegar qual ônibus?
― O próximo. ― respondeu simplesmente ― Estou cansada, preciso ir pra
casa.
Ela comentou tão casualmente que ele ficou sem resposta. Por alguns
segundos fez-se silêncio, até ela interrompê-lo:
― Aliás, quem é você?
― Un? Jack é o nome. ― respondeu ― Universitária? ― perguntou indicando
a mochila.
― Sim! Eu faço...
― Biologia ― interrompeu ele ― O chaveiro na sua mochila diz isso.
― Ah, é. ― ela sorriu embaraçada ― Gostei do seu cabelo. Homens de
cabelo comprido são bonitos.
― Devo me sentir bonitão? ― brincou ele
Riram juntos.
― Mas bem, eu acho bonito homens de cabelo comprido e barba por fazer.
Como a sua. ― disse ela enquanto ele passava a mão pelo próprio queixo ― Mas
não gosto daquelas barbas gigantes, sei lá o motivo. Apenas não gosto.
― Você fala bastante. ― comentou ele
― Quando me sinto a vontade.
― Está a vontade comigo?
― Não deveria? Você, obviamente, queria falar comigo.
― Ponto. Bom ponto. ― disse ele, quando o ônibus chegara.
― Bem, meu ônibus chegou... Eu preciso ir. Foi bom falar contigo, Jack,
você é legal.
Ela entrou no ônibus e ele acendeu outro cigarro. Sorriu e saiu dali.
Ele agora tinha sobre o que escrever. Ou melhor, sobre quem.
Ótimo conto, Jack :)
~Gaby