— Você sabe
por que a Lua chora? — perguntou-me o andarilho.
— Não —
respondi curioso — Por que ela chora?
— Não é por
“que”, mas sim por quem... — respondeu. Ele olhou, uma vez mais, para o céu
estrelado e tomou um gole do conteúdo que havia no pequeno cantil em sua mão. —
Muitos anos atrás, havia apenas o silencio. A criação estava sendo feita. No
plano etéreo o Deus, criador de todos, ordenou a Gaia, Mãe-Terra, que cuidasse
do planeta. Ela deu sua força para a natureza e, assim, gerou as primeiras
formas de vida.
Enquanto
falava, sua voz amansava-se e as chamas da fogueira a nossa frente ondulavam,
formando imagens e contando a história junto ao andarilho. Ele parou por alguns
instantes, para encarar-me. Minha atenção estava completamente focada em sua
voz.
— Enquanto
Gaia cuidava de criar a vida, Hélios, o Sol, a mantinha. — explicou — Hélios
fora o mais forte entre os espíritos maiores. Conhecido como “o de maior
brilho”, ele transmitia o calor que era necessário para que a vida continuasse.
“A terceira
entidade, Luna, foi nomeada para o papel daquela que ensinaria aos vivos como
deveriam viver. Ela quem os ensinava aquilo que lhes era necessário. Foi ela
quem decidiu a natureza das coisas... E foi ela quem se perdeu”.
— Hélios,
em seu orgulho de guerreiro, forçou seu casamento com Luna, que, incapaz de
negar algo a alguém, aquiesceu aos caprichos de Hélios. — o andarilho ocultou
parte do rosto na escuridão, mas apesar disso sua voz transpareciasua tristeza.
— E é por
ela mesma por quem ela chora? — perguntei
— Não...
Luna tinha um amante. Um guerreiro quase tão reconhecido quanto Hélios. —
esclareceu — Um poderoso guerreiro protegido por ela. Um guerreiro que trajava
a prata de Luna em sua homenagem. Uma forma de estar sempre com ela. Esse
guerreiro era uma estrela.
“Estrela
Lunar era seu nome. E por sua força era temido e reconhecido por outros
guerreiros. E apesar deste amor ser louvado entre os dois amantes, era um amor
proibido. Ela já possuía um cônjuge.”
— E Hélios,
percebendo o distanciamento de sua esposa passou a segui-la de perto. Ele os
encontrou, em um momento de descuido.
“Estrela
Lunar tentou encontrar uma forma de vencer, mas Hélios era um guerreiro sem
igual. Um oponente muito acima do que ele esperava.”
— Hélios
matou Estrela Lunar? — perguntei
“Não, meu
caro, ele o expulsou. Apesar da desonra, Hélios ainda o respeitava como
guerreiro. Expulso do plano etéreo, Estrela Lunar foi distanciado da amada.”
— Antes de
sua expulsão, ele prometeu que um dia voltaria. Um dia encontraria um meio de
retornar aos braços de Luna. — revelou — Luna, tomada pelo amor ao guerreiro,
concedeu-lhe uma benção. Dando-lhe parte de sua própria essência, ela concedeu
a ele a força para manter-se no plano físico.
— O que
aconteceu com Luna? — perguntei, minha curiosidade tornava-se preocupação. Eu
deixava-me levar pela mitologia.
— Luna foi
abandonada por Hélios, mas não sem antes tê-la preso entre as estrelas.
Solitária em volta de outros espíritos sem jamais encontrar-se com aquele a
quem jurara seu amor.
— E o
guerreiro? O que a benção o fez?
“Nasceu o
primeiro Lobo. E é por ela a quem chamam quando uivam, procuram sua benção para
sua caça. E enquanto a luz os guia, a escuridão dela os protege.”
— Lobos?
“Caçam em
bandos e durante a noite. Grande parte da essência de Luna está neles. Quando
ela os ilumina a benção se faz mais forte e os dá oportunidade de encontrar-se
com ela.”
— Luna
chora por Estrela Lunar... O amor sempre é um problema. — concluí.
— Não,
jovem, o amor não é o problema... Ele é a solução.