25 de março de 2013

Prosa — Uivos



Uivos.
Há alguns dias tem havido uivos durante a noite. Uivos entristecidos ao topo da colina. Um solitário cão leva-se a percorrer aquele caminho sempre quando o sol se põe. Esperando sempre por sua musa inspiradora.
Lua.
Ela, que há milênios tem inspirado milhares de indivíduos, não esperava que aquele pequeno animal se apaixonasse tão fortemente por alguém que estivesse tão distante. Alguém impossível de se amar.
Mais uivos.
O cão clama por sua amada. Não deixa de esperar que um dia possa se juntar a ela.
Alguém deveria ser misericordioso e convencê-lo de que a Lua jamais poderá ser sua… Seria melhor do que deixa-lo continuar sofrendo por essa falsa esperança.
Mas enquanto ninguém o fizer entender isso, ele continuará lá. Em sua solidão, esperando aquela a quem jurou seu amor.
Jack.

Conto — Por que Luna chora?


            — Você sabe por que a Lua chora? — perguntou-me o andarilho.
            — Não — respondi curioso — Por que ela chora?
            — Não é por “que”, mas sim por quem... — respondeu. Ele olhou, uma vez mais, para o céu estrelado e tomou um gole do conteúdo que havia no pequeno cantil em sua mão. — Muitos anos atrás, havia apenas o silencio. A criação estava sendo feita. No plano etéreo o Deus, criador de todos, ordenou a Gaia, Mãe-Terra, que cuidasse do planeta. Ela deu sua força para a natureza e, assim, gerou as primeiras formas de vida.
            Enquanto falava, sua voz amansava-se e as chamas da fogueira a nossa frente ondulavam, formando imagens e contando a história junto ao andarilho. Ele parou por alguns instantes, para encarar-me. Minha atenção estava completamente focada em sua voz.
            — Enquanto Gaia cuidava de criar a vida, Hélios, o Sol, a mantinha. — explicou — Hélios fora o mais forte entre os espíritos maiores. Conhecido como “o de maior brilho”, ele transmitia o calor que era necessário para que a vida continuasse.
            “A terceira entidade, Luna, foi nomeada para o papel daquela que ensinaria aos vivos como deveriam viver. Ela quem os ensinava aquilo que lhes era necessário. Foi ela quem decidiu a natureza das coisas... E foi ela quem se perdeu”.
            — Hélios, em seu orgulho de guerreiro, forçou seu casamento com Luna, que, incapaz de negar algo a alguém, aquiesceu aos caprichos de Hélios. — o andarilho ocultou parte do rosto na escuridão, mas apesar disso sua voz transpareciasua tristeza.
            — E é por ela mesma por quem ela chora? — perguntei
            — Não... Luna tinha um amante. Um guerreiro quase tão reconhecido quanto Hélios. — esclareceu — Um poderoso guerreiro protegido por ela. Um guerreiro que trajava a prata de Luna em sua homenagem. Uma forma de estar sempre com ela. Esse guerreiro era uma estrela.
            “Estrela Lunar era seu nome. E por sua força era temido e reconhecido por outros guerreiros. E apesar deste amor ser louvado entre os dois amantes, era um amor proibido. Ela já possuía um cônjuge.”
            — E Hélios, percebendo o distanciamento de sua esposa passou a segui-la de perto. Ele os encontrou, em um momento de descuido.
            “Estrela Lunar tentou encontrar uma forma de vencer, mas Hélios era um guerreiro sem igual. Um oponente muito acima do que ele esperava.”
            — Hélios matou Estrela Lunar? — perguntei
            “Não, meu caro, ele o expulsou. Apesar da desonra, Hélios ainda o respeitava como guerreiro. Expulso do plano etéreo, Estrela Lunar foi distanciado da amada.”
            — Antes de sua expulsão, ele prometeu que um dia voltaria. Um dia encontraria um meio de retornar aos braços de Luna. — revelou — Luna, tomada pelo amor ao guerreiro, concedeu-lhe uma benção. Dando-lhe parte de sua própria essência, ela concedeu a ele a força para manter-se no plano físico.
            — O que aconteceu com Luna? — perguntei, minha curiosidade tornava-se preocupação. Eu deixava-me levar pela mitologia.
            — Luna foi abandonada por Hélios, mas não sem antes tê-la preso entre as estrelas. Solitária em volta de outros espíritos sem jamais encontrar-se com aquele a quem jurara seu amor.
            — E o guerreiro? O que a benção o fez?
            “Nasceu o primeiro Lobo. E é por ela a quem chamam quando uivam, procuram sua benção para sua caça. E enquanto a luz os guia, a escuridão dela os protege.”
            — Lobos?
            “Caçam em bandos e durante a noite. Grande parte da essência de Luna está neles. Quando ela os ilumina a benção se faz mais forte e os dá oportunidade de encontrar-se com ela.”
            — Luna chora por Estrela Lunar... O amor sempre é um problema. — concluí.
            — Não, jovem, o amor não é o problema... Ele é a solução.